Importante decisão no cara ou coroa

Olá, meu nome é Nelson, mas se vocês perguntarem por esse nome nos meios em que frequento, alguns poderão não saber de quem se trata. Conhecem-me mesmo por Pituco. Meus principais interesses estão todos ligados em uma máquina do tempo que parece ter sido regulada para qualquer época anterior aos anos 70. Só que eles necessariamente devem estar relacionados a automóveis, motocicletas, bicicletas e até aviões. Antigos, é claro.
Desde jovem sempre fui interessado pelas coisas e pelas pessoas de outras épocas, em especial pelas histórias que meus amigos “beeeeeem” mais velhos do que eu contam. E a graça da coisa é justamente relacionar essas histórias com os objetos que podemos ter, tocar ou apenas ver nos dias de hoje.
Um de meus melhores contadores de histórias é o grande amigo Pedro Latorre, que acabou de completar 93 anos de vida. Um dos pioneiros do motociclismo brasileiro, Latorre começou a participar de corridas de motos em 1949, terminando sua carreira de forma espetacular aos 54 anos, vencendo na categoria 250 cm3 as 24 Horas de Interlagos de 1974.
Influenciado por Luiz Latorre, seu irmão mais velho, Pedrinho, como era conhecido nos meios motociclísticos, resolveu montar uma empresa importadora de motocicletas e peças. Como naquela época Luiz Latorre já era representante das marcas Ducati, Guzzi e BMW, Pedrinho queria começar com uma outra marca, de preferência italiana.
Em 1954, foi organizada em Interlagos uma corrida internacional de motocicletas em comemoração ao Quarto Centenário da cidade de São Paulo. Entre os pilotos das quatro categorias que vieram do exterior para a prova – 125 cm3, 250 cm3, 350 cm3 e 500 cm3 – , destacava-se John Surtees e Enrico Lorenzetti, correndo nas categorias superiores. Mas foi a pequena Mondial 125 de Nelo Pagani que lhe encheu os olhos. Não deu outra: Pedrinho fez amizade com Nelo e foi com ele para a Itália tratar de conhecer a fábrica e tentar fazer negócios.
Também disposto a entrar no mercado brasileiro, o Conte Agusta, dono da marca italiana MV, ofereceu a Pedrinho a oportunidade de ser o seu homem no Brasil, o que o colocou em um dilema: qual delas, a mítica MV ou a Mondial pela qual ele estava apaixonado? Como ele só podia escolher uma delas, não pensou duas vezes e jogou uma moeda para cima: “se der cara fico com a Mondial, se der coroa, será a MV!” Deu cara, e ele passou toda a sua vida representando as motocicletas Mondial em sua loja no centro de São Paulo. Por sinal, a mesma loja onde todas as semanas vou visitá-lo para ouvir as suas histórias. Ele não diz, mas tenho certeza que aquela moedinha ainda está guardada em algum daquelas gavetas cheias de pó.

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