Araxá 2014: nível internacional

Entre os objetos que marcaram de maneira incontestável e definitiva a vida social no século XX, o automóvel certamente está no topo da lista. Idealizado originalmente para facilitar a locomoção das pessoas, ainda no século anterior, o automóvel acabou se tornando um dos maiores símbolos de status da era moderna. Por esse motivo, e também porque o homem sempre foi fascinado pela aventura, o automóvel acabou se tornando objeto de coleção.

Entre os mais importantes encontros de colecionadores de automóveis clássicos de todo o mundo – podemos citar entre eles o Pebble Beach Concours d’Elegance, realizado anualmente na Califórnia, o Concorso d’Eleganza Villa D’Este, na Itália, e o Goodwood Festival of Speed, na Inglaterra –, está o Brazil Classics Fiat Show, que acontece a cada dois anos na cidade mineira de Araxá.

Nesse evento, que está ao mesmo nível dos melhores do mundo, colecionadores de automóveis antigos mais tradicionais de Minas Gerais se encontram para mostrar seus itens da coleção, de preferência aqueles adquiridos mais recentemente, ou então, aqueles cuja meticulosa restauração ainda não havia sido exibida em público.

Reunidos pelo principal clube de clássicos da região, o Veteran Car Club de Minas Gerais, colecionadores, expositores e o público curtiram, durante três dias (19 a 21 de junho), a festa da 21ª edição do Brazil Classics Fiat Show, que é patrocinado pela Fiat Automóveis, sediada naquele estado.

Já no primeiro dia, a quinta-feira de Corpus Christi, foi o público da cidade de Araxá que lotou as áreas de exposição, devido ao feriado. Logo à entrada do Grande Hotel uma galeria de automóveis maravilhosos já impressionava os visitantes. Mas a nata estava um pouco mais à frente. Neste ano a marca em destaque foi a inglesa Rolls Royce. Alguns dos mais belos RR já fabricados estavam lá, como Phantom II Sedanca de Ville 1932 com carroceria Barker. Esse automóvel, que pertenceu à atriz francesa Marie Bell, foi utilizado no filme Gnome-Mobile, de 1967, realizado pela Disney. Quem tem mais de 50 anos deverá lembrar desse carro como o “Fubecão”. Pois é, ele está agora aqui no Brasil.

Outras marcas de igual prestígio estavam bem representadas em Araxá. O raro italiano Isotta Fraschini 8A Cabriolet Dorsay de 1925 foi um dos automóveis que também atraiu bastante a atenção, tanto do público, que certamente não está acostumado a ver uma relíquia desse porte, quanto os aficionados pelo antigos, que curtiram seu imenso motor de 8 cilindros em linha de 7.370 cm3.

Do mesmo calibre, um espanhol Hispano Suiza 1911 e um americano Packard 1926, do museu Roberto Lee, se destacaram por estarem absolutamente originais, pois jamais passaram por qualquer restauração.

Mas o automóvel mais antigo da mostra era o belo Peugeot Torpedo Labourdette de 1908. Ainda quase dessa época, dois Fiat, um Castagna 1919 e um 1924 preparado para competição foram motivo de grande orgulho para o principal patrocinador do evento.

As marcas italianas sempre são bem representadas em Araxá. Da Alfa Romeo, um dos mais interessantes automóveis expostos, o 6C 2500 Beneschi de 1950, dividia as opiniões do público. Alguns o consideravam um tanto extravagante,  principalmente se tratando de um Alfa Romeo, mas ninguém discordava que se tratava de um belíssimo espécime.

Quando se fala em automóveis italianos, jamais se esquece a mítica marca Ferrari. Havia muitos modelos no evento, entre antigos e contemporâneos. E o mais importante da festa nem era vermelho: o 225 S Barchetta Vignale 1952 amarelo ocupava local de destaque, bem em frente ao hotel e com direito a camarote individual e coberto. Esse carro, originalmente para competições, foi dado como destruído pela Ferrari de Modena, mas foi encontrado em péssimo estado em uma coleção paulista e encaminhado à matriz para restauração completa. Apenas 8 unidades foram fabricadas artesanalmente e algumas realmente foram destruídas em corridas.

Entre as marcas menos conhecidas do mundo, uma delas é a inglesa Armstrong. Também em local privilegiado no páteo em frente ao hotel, o Armstrong Siddeley Hurricane 1948 impecavelmente restaurado e com as antigas placas de seu país de origem só era reconhecido pelos mais profundos conhecedores do antigomobilismo.

O encontro de Araxá reúne os mais importantes automóveis da história pertencentes a colecionadores brasileiros. Mas alguns modelos, que podem ser considerados mais populares mas que também têm sua importância na indústria automobilística, também podem ser vistos por lá. É o caso do Tatraplan, automóvel produzido na Tchecoslováquia nos anos 40. Este Tatra modelo 87 de 1947, que pretendia ser tão popular quanto o Fusca, também tinha motor traseiro refrigerado a ar, só que um V8 de 3 litros e 75 cv de potência.

Fuscas, Opalas, Kombis, Karmann-Ghias, Dodges,  Mavericks e muitos outros automóveis nacionais também faziam parte da exposição e, certamente, da história e do sonho de muitos dos visitantes.

As atrações: leilão e premiação

Todos os automóveis em Araxá ficam expostos por três dias inteiros, chegando na quarta-feira e voltando para as suas respectivas coleções no domingo. Por isso sempre há muito tempo para ver e rever todos eles. Para entreter o público, principalmente aquele que vem de longe apenas para participar do evento, as maiores atrações são o leilão, que desta vez aconteceu em duas sessões, na sexta-feira à tarde e à noite, e a festa de premiação, no sábado à noite. Uma passarela especial para os automóveis com arquibancada dos dois lados é o palco das duas festas.

O leilão é a atração mais divertida e a mais aguardada por todos. Não é bem um leilão oficial, já que Araxá tem algumas regras próprias, mas os lances são sempre levados a sério. E o vendedor não precisa entregar o automóvel pelo maior lance, a menos que este seja superior ao valor que ele espera vender.

Nesta edição do encontro de Araxá o leilão teve 84 veículos inscritos, com mais da metade arrematados. O maior lance vencedor foi para um Ferrari 308 GTS de 1981, vendido por R$ 205.000. Mas houve lance muito maiores, como no caso do Cadillac 1941 conversível: o maior lance chegou a incríveis R$ 550.000, porém seu proprietário não a entregaria por menos de R$ 600.000. Voltou com o carro para casa.

Um Porsche 928 1978, daqueles que têm motor V8 dianteiro, alcançou bons R$ 75.000 e foi vendido. Mais sorte teve o dono de uma Lambretta 1967, que foi vendida por R$ 11.500. Um BMW modelo 2000 ano 1968 mudou de dono por R$ 30.000, um muito bem restaurado caminhão Ford F6 1948 com motor original e mais um de reserva foi vendido por R$ 57.500 e um Mercedes-Benz 450 SL 1975 teve lance de R$ 84.000.

Os carros premiados na noite do sábado foram o Tatra 1947 de André Beldi, na categoria Clássicos, a Kombi 1974 de Luiz Malta, na categoria Nacionais e o Plymouth GTX 1970 de Afonso de Castro Gonzalez, na categoria Esportivos. Estes três premiados foram escolhidos por votação popular, pelos visitantes da feira.

Eleitos pelo júri do evento, na categoria Nacionais: DKW Fissore 1964 de Pedro Ladeira; Ford Landau 1979 de Eduardo Carone Costa Jr; Alfa Romeo 2300 1974 de José Roberto Nasser; DKW Malzoni 1966 de James Mendonça e Rodrigo Moura; Reggia 1978 de Eduardo Azevedo; réplicas Benz Patent Wagen 1886 e Fiat 509 S Competizione 1924.

Na categoria Contemporâneos II (1971 a 1980), foram premiados o Rolls Royce Corniche 1972 de Claudio Romi; Rolls Royce Corniche 1977 de Rafael de Castilho; Mercury Grand Marquis 1978 de Hugo Picchioni, Porsche Carrera RS 1973 de André Biagi e Mercedes-Benz 280 SE 1971 de Léucio Honório. Na categoria Contemporâneos I (1961 a 1970): Mercedes-Benz 220 1965 de Alexandre Murad; Mercedes-Benz 280 SE 1969 de Eduardo Carone Costa; Alfa Romeo Giulia Sprint GT 1966 de Emanuel Zveibil; Mercury Monterrey 1962 de Renato Malcotti; Jaguar Mark II 1961 de José Eduardo Assis Lefreve; Jaguar Mark II 1967 de Leonardo Carvalho; Jaguar Mark II 1962 de Gilbert Lausberg; BMW Cabriolet 1600 1970 de Fernando Antônio Marques; BMW Alpina 1969 de James Mendonça; Jaguar E Type Série II 1969 de Sergio Massa; Aston Martin DB 6 Vantage 1966 de Nelson Rigotto; Ford Mustang Conversível 1968 de Sergio Rolim e Ford Mustang Fastback 1965 de Paulo Lomba.

Os veículos premiados na categoria Pós Vintage (1931 a 1945) foram o Ford Roadster A 1931 de Plinio Molinari; Packard 1926 do Museu Roberto Lee; Cadillac 1939 V 16 de Rubio Fernal; Cadillac Coupê 1941 de Hugo Picchioni;    Cadillac Conversível 1941 de José Cândido Murici; Cadillac 60 S 1941 de Joel Paschoalin e Rolls-Royce Sedanca Deville 1932 de Oswaldo Borges.

Categoria Vintage (1919 a 1930): Buick Limousine 1929 de Marcos Vinicius Meduri; BMW Dixi 1928 de André Beldi; Packard 1926 do Museu Roberto Lee; Rolls-Royce Phantom I do Museu Jorm.

Veteranos (até 1918): Peugeot 1908 de Oswaldo Borges.

Troféu Hour Concours: Ferrari 225 Barchetta Vignale 1952 de Antonio Ricardo Beira.

Troféu Roberto Lee (Best Of The Show): Bugatti 57 Cabriolet Stelvio 1938 de Oswaldo Borges.

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